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Brumadinho,27/09/2025

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Manifestação histórica em Belo Horizonte reúne mais de mil atingidos e pressiona TJMG pela continuidade do auxílio emergencial


Manifestação histórica em Belo Horizonte reúne mais de mil atingidos e pressiona TJMG pela continuidade do auxílio emergencial Ag. EficazPress

Mais de mil pessoas ocuparam as ruas de Belo Horizonte nesta quinta-feira, 25 de setembro, em uma manifestação considerada histórica pelos atingidos da tragédia da Vale em Brumadinho e da Bacia do Paraopeba. A mobilização, marcada pela presença de moradores de cidades duramente impactadas, como Brumadinho, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Juatuba e Igarapé, levou ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) um recado claro: a luta é pela continuidade do auxílio emergencial diante da ameaça de encerramento do Programa de Transferência de Renda (PTR) em outubro.

Apesar da força e da organização do ato, os manifestantes sentiram a ausência de representantes do poder público e do próprio Judiciário, fator que aumentou ainda mais a sensação de abandono. Ainda assim, prevaleceu o sentimento de que a mobilização conseguiu pressionar o tribunal e criar expectativa real de avanço no processo que pode garantir o pagamento do auxílio a partir de novembro.

Silas Fialho: expectativa no julgamento em segunda instância

Um dos momentos mais marcantes foi a fala de Silas Fialho, liderança que tem se destacado na articulação dos atingidos, presidente da AAMG/MG - Associação dos Atingidos por Mineração e Barragens de MG. Em sua análise, Silas lembrou que, em primeira instância, o juiz Murilo já havia reconhecido que a Política Nacional dos Atingidos por Barragens (PNAB) garante o direito ao auxílio emergencial. Ele reforçou que essa decisão abre caminho para a continuidade do benefício, mesmo após o fim do PTR previsto no acordo intermediado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

“O pagamento de outubro está garantido, mas a partir de novembro não há nenhuma segurança. A expectativa é que o TJMG acelere a audiência e mantenha a decisão do doutor Murilo em segunda instância. Isso pode obrigar a Vale a continuar pagando, seja com a continuidade do PTR ou com a criação de um novo auxílio”, explicou Silas. Ele também destacou que prefeituras como as de Brumadinho e Mário Campos já solicitaram reuniões emergenciais com o comitê gestor e representantes do Estado, buscando soluções urgentes.

Camila Moreira: impacto humano da perda do PTR

Uma das principais lideranças dos atingidos, Camila Moreira, presidente da Ama Rios - Assosciação dos Atingidos por Mineração e Barragens de MG, emocionou os presentes ao apontar para as consequências concretas do fim do auxílio. “Ontem foi um dia em que deixamos o nosso recado para as instituições de justiça. A falta do PTR trará impactos financeiros, psicológicos e de saúde para todos os atingidos. Espero que a Justiça use o poder para fazer justiça, e não injustiça”, disse.

A fala de Camila resumiu o sentimento coletivo: o auxílio não é um privilégio, mas um mecanismo de sobrevivência. Em muitas casas, ele garante desde a alimentação básica até o tratamento de saúde, já que grande parte dos atingidos vive em situação de vulnerabilidade social.

MAB denuncia complô entre Vale e governo Zema

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), responsável pela organização do ato, também reforçou que a luta é pela continuidade do auxílio emergencial como direito garantido pela PNAB. Segundo o dirigente nacional Joceli Andrioli, o fim do PTR em outubro agravaria a fome e o desespero em comunidades ao longo do Paraopeba e do Lago Três Marias.

“O dinheiro que chega às famílias não é indenização, mas uma medida mitigatória, que precisa ser mantida até a reparação integral. O que vemos hoje é um complô entre a Vale e o governo Zema, que tentam sustentar um acordo falido. Isso viola os direitos dos atingidos”, afirmou.

O MAB também cobrou transparência e medidas estruturantes, lembrando que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já orientou a criação de grupos de trabalho sobre o tema. O TJMG se comprometeu a realizar audiência pública para debater as questões socioambientais, mas ainda sem data definida.

Relatos de atingidos: a realidade por trás da luta

Além das lideranças, os relatos de atingidos presentes na manifestação revelam a gravidade da situação. Muitos destacaram que sobrevivem exclusivamente do PTR e que a incerteza sobre novembro e dezembro gera desespero.

“Tem muita gente doente, em tratamento, que não consegue trabalho. Esse dinheiro é a única renda. O governo e a Vale estão dando um checkmate nos atingidos, com a FGV no meio sem transparência nenhuma. Falaram que Juatuba receberia até dezembro e agora cortam em outubro. Como fica a população?”, questionou uma moradora.

A indignação também se estende à falta de qualidade de vida nas cidades da calha do Paraopeba. Moradores denunciam contaminação da água em cisternas e poços artesianos, além da poeira de minério que invade casas e compromete a saúde. “Você passa o pano na casa, está tudo preto. A gente respira isso todos os dias. Quem tem dinheiro compra água, mas a maioria é pobre e depende da água do rio, que está contaminada”, relatou outro atingido.

A sensação de injustiça permeia os depoimentos. “A Vale matou 272 pessoas, e até hoje o julgamento do ex-presidente foi suspenso. Eles mascaram de todas as formas, e os atingidos não sabem mais o que fazer. Talvez a única saída seja bloquear BRs, ferrovias e carretas, para mostrar que não estamos brincando”, desabafou uma manifestante.

Ausência das autoridades e expectativa pelo futuro

O ato de quinta-feira também ficou marcado pela ausência de representantes do poder público e do Judiciário. Para os atingidos, essa falta de diálogo é um símbolo da forma como a reparação vem sendo conduzida: sem transparência, com decisões suspensas e promessas não cumpridas.

Ainda assim, a manifestação foi considerada um marco histórico. Pela primeira vez em meses, milhares de pessoas uniram-se em frente ao TJMG para cobrar não apenas a continuidade de um benefício, mas também respeito, dignidade e justiça.

A expectativa agora é que a pressão popular acelere o julgamento em segunda instância e garanta que as famílias não fiquem desamparadas a partir de novembro. Caso contrário, a indignação pode transformar-se em novas mobilizações, ainda mais intensas.






















A mensagem dos atingidos foi clara: sem auxílio emergencial, não há sobrevivência possível nas comunidades impactadas pela tragédia da Vale.

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