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Brumadinho,27/09/2025

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Vale acima da vida? Atingidos irão ocupar BH amanhã, dia 25, contra retirada do auxílio emergencial e pela reparação integral


Vale acima da vida? Atingidos irão ocupar BH amanhã, dia 25, contra retirada do auxílio emergencial e pela reparação integral Ísis Medeiros

Amanhã, 25 de setembro, Belo Horizonte será palco de uma das maiores mobilizações de atingidos pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho desde o rompimento da barragem em janeiro de 2019. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) convoca famílias de toda a bacia do Paraopeba e do Lago de Três Marias para protestar contra o anúncio do fim do Programa de Transferência de Renda (PTR), previsto para outubro de 2025. A decisão coloca em risco a sobrevivência de 164 mil pessoas que ainda dependem do auxílio para garantir comida, moradia e medicamentos.


O encerramento do programa foi comunicado de forma abrupta pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública, confirmando denúncias já feitas pelo MAB de que o PTR vinha sendo conduzido sem responsabilidade e sem o devido respeito às comunidades atingidas. Para os atingidos, a medida simboliza a falência de um Acordo Judicial que, desde sua criação, não garantiu participação popular efetiva e foi marcado por problemas de gestão e falta de fiscalização.


Quase sete anos depois do rompimento da barragem, a reparação segue distante do prometido. A economia local não se recuperou, famílias permanecem sem alternativas de renda, a reparação socioambiental não avançou e a dependência do auxílio emergencial se manteve como uma realidade incontornável. Ao encerrar o PTR sem oferecer substituição, as instituições de justiça e a Fundação Getúlio Vargas, responsável pela gestão, aprofundam um cenário de fome e endividamento.


O peso da crise é ainda maior em Brumadinho, onde o custo de vida disparou desde a tragédia. A chegada de grandes empresas, o aumento da demanda por moradia e serviços e a especulação imobiliária elevaram preços de aluguel, alimentação e até de itens básicos do dia a dia. Para famílias que perderam suas principais fontes de renda com o rompimento da barragem, sobreviver em nossa cidade tornou-se um desafio diário. Sem o auxílio, muitas não conseguem sequer permanecer em Brumadinho, sendo forçadas a se endividar ou a deixar a cidade onde construíram suas histórias.


O MAB alerta que a retirada do benefício aumenta ainda mais a vulnerabilidade social, ao mesmo tempo em que reforça a percepção de abandono. As famílias relatam dificuldades crescentes para manter a alimentação básica, comprar remédios e pagar contas. A cada mês que passa, aumenta o peso das dívidas acumuladas, resultado direto de uma reparação que nunca chegou de forma justa e integral.


A manifestação marcada para amanhã tem como objetivo central cobrar a continuidade do auxílio emergencial, mas também levantar a voz contra a omissão do Estado e o descaso da Vale. O movimento lembra que o auxílio não é caridade, mas um direito conquistado pela luta dos atingidos. Além disso, a mobilização reforça a necessidade de fortalecer as Assessorias Técnicas Independentes (ATIs), fundamentais para que as comunidades tenham acompanhamento jurídico e técnico diante das negociações.


A programação inclui concentração no INCRA às 8h, onde será realizada uma assembleia dos atingidos. Em seguida, às 9h, os manifestantes sairão em marcha até a sede do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na Avenida Afonso Pena. A previsão é de que às 10h30 aconteça uma reunião com a presidência do TJMG, seguida por coletiva de imprensa. Durante a tarde, os protestos seguirão para o Ministério Público Federal e para a Defensoria Pública de Minas Gerais, encerrando às 17h30.


Ônibus foram disponibilizados para levar atingidos de vários municípios da bacia do Paraopeba, incluindo Brumadinho. A expectativa é de que a mobilização tenha grande adesão, motivada não apenas pelo anúncio do fim do PTR, mas também pela indignação acumulada ao longo de anos de promessas descumpridas. Famílias que perderam seus entes, suas casas e seu sustento exigem que a reparação não seja apenas um discurso vazio, mas uma realidade concreta.


O governo de Minas, comandado por Romeu Zema, também está no centro das críticas. Nos últimos anos, bilhões de reais do acordo de reparação foram direcionados para regiões como Governador Valadares, a bacia do Rio Doce e obras rodoviárias sem relação com a tragédia. Para lideranças sociais, trata-se de uma manobra política e eleitoreira que deixou Brumadinho e os demais municípios atingidos à margem do processo. Em nossa cidade, a sensação é de abandono: famílias continuam enfrentando rios contaminados, terras improdutivas, um custo de vida cada vez mais alto e a dependência de auxílios que agora estão sob ameaça.


As declarações recentes do governador de que a Vale coloca a vida humana acima de tudo soam como insulto para quem convive com os impactos do rompimento. A realidade é que, enquanto discursos tentam suavizar a tragédia, o cotidiano dos atingidos continua marcado pela incerteza. O MAB reforça que a reparação deve ser construída com participação popular, transparência e respeito às comunidades, e não com decisões de gabinete que apenas beneficiam a mineradora e governos.


Amanhã, a capital mineira será ocupada por vozes que se recusam a aceitar o silêncio e a omissão. Será um dia de luta em memória das 272 vítimas fatais e em defesa dos milhares de atingidos que ainda esperam por justiça. O ato em frente ao TJMG promete ser um marco de resistência e de cobrança, mostrando que a luta pela reparação integral continua viva e que Brumadinho e toda a bacia do Paraopeba não serão esquecidos.


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