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Brumadinho,27/09/2025

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Último mês de auxílio chega sem alternativa para milhares de atingidos, julgamento é adiado e a reparação segue distante da realidade.


Último mês de auxílio chega sem alternativa para milhares de atingidos, julgamento é adiado e a reparação segue distante da realidade.

O Programa de Transferência de Renda, criado a partir do Acordo Judicial de Reparação Integral após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, chega ao fim em outubro de 2025. A decisão, anunciada pelas Instituições de Justiça, marca um encerramento antes do esperado e deixa em evidência uma ferida aberta que está longe de cicatrizar. O programa, que foi financiado inicialmente com 4,4 bilhões de reais e depois recebeu um acréscimo de 1,3 bilhão, contemplou mais de 164 mil pessoas atingidas com 50 parcelas mensais ao longo de quatro anos. Agora, os recursos se esgotaram e os últimos pagamentos, incluindo retroativos, serão feitos em um único mês, no próximo outubro.

O encerramento do PTR acontece em meio a um cenário de frustração e incerteza. O julgamento no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que poderia definir o futuro da reparação e a continuidade de medidas emergenciais, foi adiado mais uma vez, alimentando a sensação de que o processo se arrasta ao sabor dos interesses da Vale e das disputas judiciais. Esse adiamento agrava a revolta de comunidades que já convivem com a falta de perspectivas e dependiam do benefício para sobreviver. A impressão é de que o tempo corre contra os atingidos, enquanto a reparação caminha em ritmo lento, sem responder à urgência de quem perdeu tudo.

O impacto financeiro do fim do PTR será devastador para muitas famílias. Em especial para aquelas que viviam do rio Paraopeba, a perda vai muito além do dinheiro. A lama destruiu a pesca, contaminou a água, inviabilizou a irrigação e afastou a possibilidade de sustento direto da natureza, como era tradição em várias comunidades ribeirinhas. Durante quatro anos, o programa representou mais que uma compensação: foi o fio de segurança que manteve comida na mesa, garantiu o básico para o dia a dia e ajudou a recompor minimamente a dignidade de quem foi arrancado da própria rotina. Com o fim repentino, milhares terão que lidar novamente com a instabilidade, sem ter uma alternativa clara de renda.

O anúncio das Instituições de Justiça tenta apresentar o encerramento como uma consequência natural do esgotamento dos recursos previstos em acordo. Mas, para as comunidades atingidas, essa justificativa soa insuficiente diante da realidade. Afinal, a reparação não se resume a um calendário financeiro, mas a um processo contínuo de reconstrução de vidas, de territórios, de projetos coletivos. Encerrar o PTR antes de apresentar outra política de suporte significa colocar famílias inteiras em vulnerabilidade novamente, ignorando que a tragédia deixou marcas que ainda não foram superadas. É impossível falar em reparação plena quando a dependência de muitas famílias continua, e os meios de subsistência tradicionais seguem inviabilizados.

O programa já vinha sofrendo reduções graduais desde março de 2025, diminuindo o valor recebido por cada família. Essa redução foi sentida com dureza nas comunidades, que viram suas contas se desequilibrar e seus orçamentos encolherem mês após mês. Agora, com o fim definitivo, a situação se agrava. Muitos beneficiários afirmam que não existe hoje outra fonte estável de renda capaz de substituir o valor do benefício. Não houve tempo para adaptação, nem políticas de transição para quem será deixado para trás. A vida segue marcada por promessas, mas sem garantias.

A reparação que deveria ser integral está longe de ser concluída. O rio continua contaminado, a recuperação ambiental caminha lentamente, famílias ainda enfrentam dificuldades de reassentamento, e serviços públicos não foram reforçados como deveriam. O encerramento do PTR deixa claro que o compromisso assumido em papel não se reflete no cotidiano de quem mais sofreu com o rompimento. A tragédia não se encerra com o fim do programa, e tampouco pode ser medida apenas pelo dinheiro depositado em contas bancárias. A reparação real exige continuidade, escuta e ações estruturais que garantam dignidade no longo prazo.







Encerrar o PTR em outubro de 2025 não é apenas o fim de um programa, mas a demonstração de que a reparação continua sendo conduzida de forma fragmentada e insuficiente. Para quem dependeu do benefício, resta a incerteza. Para quem tirava do rio o próprio sustento, resta a lembrança amarga de que a vida não voltou ao normal. O adiamento do julgamento reforça a sensação de impunidade e de que a Justiça não tem pressa em assegurar os direitos das vítimas. Enquanto isso, as famílias de Brumadinho e de toda a bacia do Paraopeba seguem lutando não por favores, mas pelo cumprimento de compromissos assumidos e pela garantia de um futuro menos incerto.

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