Mais uma parcela do Acordo Judicial de Reparação foi liberada pelo Governo de Minas nesta semana, somando R$ 28.819.576,67. O anúncio, publicado em decreto assinado pelo governador Romeu Zema, foi celebrado como mais um passo no processo de reconstrução pós-rompimento da barragem da Vale. No entanto, nenhum centavo desse montante será aplicado diretamente em Brumadinho, cidade onde 272 vidas foram interrompidas há pouco mais de seis anos.

Do total, R$ 21,8 milhões irão para o Hospital Regional de Governador Valadares, na região Leste do estado. Outros R$ 4,1 milhões vão para a Bacia do Rio Doce, com foco em projetos socioambientais. Já os R$ 2,8 milhões restantes serão destinados ao Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais, para obras de mobilidade na Bacia do Paraopeba. Embora Brumadinho integre essa bacia hidrográfica, não há qualquer detalhamento que garanta a aplicação dos recursos dentro do território municipal.

A ausência de ações diretamente voltadas para nossa cidade tem causado indignação. Brumadinho, que deveria estar no centro das prioridades, segue assistindo de fora enquanto os recursos da reparação tomam outros rumos. O discurso de valorização da população atingida não tem se refletido em ações concretas no território onde o crime aconteceu.

Essa não é a primeira vez que verbas milionárias são anunciadas com grande alarde, mas aplicadas longe dos moradores que vivenciaram a lama, o luto e o abandono. Sem explicações claras, o governo estadual continua destinando valores expressivos a municípios distantes, enquanto nossa cidade ainda tem demandas importantes nas áreas de saúde, moradia, infraestrutura e apoio social que poderiam ser contempladas com mais prioridade.

Desde 2021, Brumadinho recebeu parte dos recursos do acordo para projetos habitacionais, pavimentação e obras emergenciais. No entanto, os anúncios mais recentes de liberação financeira não incluem repasses diretos para o município, deixando a população com a sensação de que a reparação tem se tornado um processo burocrático, distante da realidade de quem mais sofreu.

O governador Romeu Zema, inclusive, tem sido duramente criticado em nossa cidade por sua condução do processo de reparação. Moradores, lideranças locais e atingidos apontam que os recursos do acordo estariam sendo usados de forma política, com distribuição voltada a interesses estratégicos do governo estadual, e não como instrumento de justiça e compensação para os que foram diretamente afetados.

Em um momento em que famílias seguem esperando por justiça, por reconstrução e por dignidade, a exclusão de Brumadinho desta nova etapa do repasse é, no mínimo, um recado claro. A dor da nossa cidade parece ter sido esquecida.